#28 A minha felicidade te incomoda tanto assim?
Felicidade, algumas pessoas sentem demais, outras de menos. Mas o que é ser feliz? o que é felicidade? significa o mesmo para todos?
Felicidade pode ser beber até cair, ou comer brigadeiro até vomitar, dançar em uma festa até suas pernas doerem, ou seu cóccix doer de ficar o dia sentando no sofá assistindo a filme.
Os filósofos associam a felicidade com o prazer, com os sentimentos e emoções. Segundo Aristóteles, a felicidade seria o equilíbrio e harmonia, e a prática do bem. Então já que está ligado a prazeres e sentimentos, cada um sabe o que lhe faz feliz de verdade, e sabe dos seus limites para ir atrás da felicidade, mas o problema é quando você começa a trocar sua felicidade pela do outro, o que acontece em relacionamentos, tanto amorosos, quanto amigáveis, ou então quando você não está ciente do seu limite para achar a felicidade.
Quando você começa a pensar demais na felicidade do outro, a sua felicidade vai sumindo, e você se torna alguém que só pensa no outro, e não que seja ruim pensar nos outros, mas tudo tem um limite. Às vezes eu reflito sobre o que me deixa mais feliz, a minha felicidade na maioria das vezes faz as pessoas me acharem estranha, careta e ‘responsável demais’, a felicidade dos outros me faz pensar que são impulsivos, influenciáveis e adolescentes demais.
Mas a verdade é que cada um vive a vida que quer, que pode, vive a vida como foi ensinado. E claro que sua felicidade sempre vai incomodar alguém, por terem visões diferentes. Na maioria das vezes, o que me deixa feliz é estar sozinha, sim, estar sozinha, meus pais odeiam isso, meus amigos me acham reclusa e ‘chata’, mas estar sozinha, escrevendo, desenhando, assistindo a algo com muitos episódios no meu quarto me faz feliz. As pessoas sabem que eu odeio festas, não gosto de beber, nem de fumar, e isso me faz eu. E talvez você pense que eu deveria arrumar amigos que tenham mais a ver comigo, mas a verdade é que eu gosto de ter amigos com gostos opostos.
Sinto que nos últimos anos eu evoluí muito como pessoa, minha cabeça evoluiu em muitos aspectos, tenho uma visão diferente do mundo e isso me ajuda na vida adulta. Sempre fui uma pessoa sozinha, sempre amei minha solidão, a solidão que eu escolhia senti, e isso me faz feliz. E muitas vezes eu sinto que a minha felicidade incomoda os outros, o meu jeito de viver faz as pessoas sentirem rancor de mim, minha felicidade é entediante para outros.
Quando comecei a ficar com minha namorada, muitas pessoas falavam sobre mim, tanto os meus amigos quanto os dela, e as pessoas de fora, alguns comentários eram negativos, a maioria coisas ruins, sobre nós ou sobre mim. E não, não sou uma pessoa ruim, de verdade, eu nem falo para ser sincera, eu só sou quieta e tenho cara de brava, e era uma lésbica numa escola cheia de homens héteros com egos infláveis que queriam ficar com minha namorada. Pessoas que estavam com raiva da nossa felicidade, que algumas vezes desejavam mal e falavam isso, e não é como se fosse algo que não incomodava, ter as pessoas falando sobre a gente e desejando mal não era uma coisa boa, e agradeço que nos conhecemos no fim do ensino médio.
Desde que a internet cresceu durante a pandemia, tudo virou motivo para julgamento, a famosa cultura do cancelamento, podemos dizer assim. Confesso que uso bastante a internet e, por conta disso, vejo muitas coisas ruins, me fazendo notar como nosso mundo ainda continua o mesmo, machista, racista, sexista, homofóbico e preconceituoso em vários aspectos. Me sinto mal na maioria das vezes, e sei que grande parte desses cancelamentos são por motivos bestas, por pessoas sendo elas mesmas, ou sendo feliz da sua maneira. (Não estou falando de cancelamentos envolvendo coisas criminosas como racismo, agressão e afins).
O mundo está se tornando um lugar pior para nós minorias vivermos, mulheres, homossexuais, pessoas negras, pobres, etc. Tudo isso por que estamos normalizando demais a liberdade de expressão, e as consequências disso são crianças e adolescentes achando o Nazismo algo certo, machismo, homofobia e até racismo. E isso me preocupa muito, porque cada dia que passa eu sinto medo de ser eu, sou uma jovem preta, da periferia de São Paulo, lésbica e fora dos padrões.
Em conclusão, esse medo que eu sinto é pelo simples fato de que as pessoas são inseguras, infelizes e precisam de toda maneira encaixar o mundo em sua religião, elas precisam que todos sigam suas crenças, seus achismos sobre o que é certo e o que é errado, o que eles acham ou não ser a definição de felicidade. Por que minha felicidade afeta tantos os outros? Por que a sua felicidade depende do que eu faço? Se cada um cuidasse da sua felicidade e da sua vida o mundo seria um lugar um pouco melhor.
-Isabella Almeida